Friday, April 28, 2006

A ESPERA

"Esperava ansiosamente por ela
Contava os segundos seculares
Roía as unhas da alma

Esperava por ela
Montada em seu cavalo noturno
Galopando naquele vale de solidão
Vinha sempre com a noite, porém trazia luz

Os momentos com ela não tinham fim
Eternos momentos de alívio passageiro."

(Gustavo Adonias)

Monday, April 24, 2006

INQUESTÕES

"A chuva que cai aí
É a mesma que cai aqui?

O sangue que corre em suas veias
É igual ao que corre em minhas artérias?

Os velhos relógios
Marcarão os segundos do futuro?

Prenderão deus
Em um quarto escuro?

Arquitetos projetarão
Pontes interplanetárias?

Existem pássaros
Nas ilhas Canárias?

A estrada é longa
O tempo é curto

O último a sair apague a luz."

(Gustavo Adonias)

Sunday, April 23, 2006

ANJO TORTO

"Hoje um anjo veio me visitar
Débil, feio e torto
Quase morto

Hoje um anjo veio me visitar
Sem asas, sem auréola
Sem trombetas a lhe anunciar

Hoje um anjo veio me visitar
Caindo aos pedaços
Veio me dizer palavras incertas
Verdades repletas de fraqueza humana

Não havia nada de divino
Naquele pobre menino
Anjo pivete
Deixado por Deus muito antes de nascer."

(Gustavo Adonias)

Wednesday, April 19, 2006

O HOMEM INVERTEBRADO

"Me digam qual é o código genético do homem invertebrado
Seus defeitos congênitos, suas doenças futuras
O fundo se sua alma obscura

Seu tipo sanguíneo
De que mãe foi gerado
Se foi fruto de uma ciência fantástica
Projetado por um deus cego
Qual o tamanho do seu ego

Se tem um nome
Se dorme ou come
Se tem família, trabalho
Se recebe salário

Se vai morrer de causa natural
Se quando morto aparecerá no jornal
Se terá câncer
Se terá chance de viver em paz."

(Gustavo Adonias)

Monday, April 17, 2006

ALMAS CONSELHEIRAS

"Mulheres em cânticos
Pedem proteção

Homens em armas
Espingarda, enxada, facão

A vila de outrora, ruínas de hoje
Os morros, onde ainda morrem
E sempre morrerão
Almas conselheiras

Até o dia em que o sertão virar mar
E o mar virar sertão."

(Gustavo Adonias)

Saturday, April 15, 2006

"...Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar pra sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é pra brilhar,
que tudo mais vá pro inferno,
este é o meu slogan
e o do sol."

(Vladimir Maiakovski)

Wednesday, April 12, 2006

DEZESSETE MINUTOS

"Dezessete minutos
Caixas de ilusões
Em prateleiras de solidão

Dezessete minutos
O eco já foi ouvido
Na cidade vazia

Dezessete minutos
O mundo não para
Move-se rápido, mortalmente
Gélida guilhotina

Dezessete minutos
De desejos perdidos
Em íntima neblina."

(Gustavo Adonias)

Tuesday, April 11, 2006

CIDADE VAZIA

"Ando pela cidade vazia
Metáfora para minha vida
Algo estranho acontece aqui
Ruas desertas
Ou meus olhos nada veêm?
Não é noite nem tampouco dia
O tempo não mais existe
Só um nada concreto
Insiste em me apunhalar
Me tortura na noite inexistente
Não durmo, mas acordado não estou
Levanto em meio à bolha que me envolve
O suor me faz escorregadio
As luzes acesas sem necessidade
Iluminam minha dor quase incolor
A pessoa que me chamava de amor
Hoje não mais existe
Sumiu enquanto eu tentava me desvencilhar
de sonhos ruins
Hoje estou distante de tudo
Me afogando em lembranças
De um tempo melhor."

(Gustavo Adonias)

Monday, April 10, 2006


MULHERES DOS ESCOMBROS

"Vejam aquelas mulheres ao longe
Lapidam pedras toscas
Como se fossem diamantes

Reconstroem do nada suas esperanças
Na falta de amor

Se alimentam da dor de nada serem
Nada mais poderem ser

Aguardam seus companheiros
Sabem que não voltarão
Nem choram, nem sorriem
Não há tempo para ilusões

Reconstroem seus destinos
Moldam sua vida
Com os restos, as ruínas da guerra
Escombros dos seus ásperos corações."

(Gustavo Adonias)



*Poesia registrada na Biblioteca Nacional sob n. registro 401.580*

Saturday, April 08, 2006


A SERPENTE

"Delirante jardim
Aonde o sol não chega

Perto de uma árvore
Serpenteia repentina

Serpente de olhar profundo
Olho do mundo

Me diz ao ouvido
Coisas doces, venenosas

Palavras de amor de quando foi gente
A agora serpente"

(Gustavo Adonias)



*Poesia registrada na Biblioteca Nacional sob número registro 401.580*


Thursday, April 06, 2006


CERTEZA

Nada mais será como antes
Medos, desejos estanques
Dores estranhas
A noite chega causando estragos
Vire de lado e durma
Não é sua culpa
A vida que é curta
E o sonho imperfeito
Com essa certeza me deito.

(Gustavo Adonias)

* Poesia registrada na Biblioteca Nacional sob registro 401.580*

Tuesday, April 04, 2006


PLANOS

"A filosofia da morte
Dando adeus a entes queridos
A vida sem cortes
Ameaça abrir mais feridas
Longe, mais um dia nasceu
Aqui, já se fez noite
Um inocente morreu
De tanto calor
As geleiras derretem-se
Só a imune geladeira do meu peito, conserva
Um coração em vias de deterioração
Enquanto a cidade dorme
Outra calamidade ocorre
Ponho fogo em minha alma
Espero o sol queimar seus bilhões de anos
Enquanto isso, refaço os meus planos."

(Gustavo Adonias)



*Poesia registrada na Biblioteca Nacional sob número registro 401.580*

Monday, April 03, 2006


AVISO AOS NÁUFRAGOS

"Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?"

(Paulo Leminski)