Wednesday, November 18, 2009



SEGUNDOS ETERNOS


Seus olhos de lua cheia

Brilhavam com tanta intensidade

Eclipsando toda a dor

Só restando o amor


Olhos esvoaçantes

Abrindo as janelas da alma

Movendo-se

No cosmo do quarto azul


Louco céu sem cortinas

Íntimas nebulosas

Galáxias de pálpebras

Finíssimas sedas


Olhos, acima de tudo

Código mudo

Além deles, apenas ilusões


Embarco nesses olhos

Rumo à eternidade

Dos nossos segundos...


(Gustavo Adonias)



*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Wednesday, September 02, 2009


ESPÍRITO FEITO DE MAR


Pálpebras abertas

Sol e lua na testa

Terceira margem do rio

Da mente liberta

Rumo ao incerto oceano

Doce redescoberta

Das terras da alma

Continentes perdidos

Coração na garrafa

Náufrago destino

Marujo mareado

Na prancha da esperança

Do navio fantasma do desejo

Sina de pirata tatuada no peito

Rum e paixões

Nas antilhas da emoção

Amores e tempestades

Não há o que temer

Navegar não é escolha

Quando o espírito é feito de mar...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Tuesday, August 04, 2009


PALESTINA TUPINIQUIM


Vidas derramam-se instantâneas

No asfalto cotidiano

O sangue mancha os dias

Como flor de fogo

Brotando nas vias

A violência engatilhada

Nos espreita e escraviza

Somos reféns de uma guerra sem fim

Palestina tupiniquim

Caminhamos sobre um mar vermelho

De dor e medo

Filosofia do desespero

A paz nos abandonou

Voou para bem longe

Fugindo das balas perdidas

Que sempre encontram um dono...


(Gustavo Adonias)



*Poesia regitrada na Biblioteca Nacional*

Sunday, July 19, 2009


NÔMADE CORAÇÃO


Meu coração é cigano

Nômade, sem porto

Pirata nos eternos mares

Beduíno nos desertos sem fim

No circo da vida

Palhaço, pierrô e arlequim


Na escola da existência

Meu coração, aprendiz do dia-a-dia

Ri para não chorar


Meu coração é um rei

Sem súditos ou castelos

Tem o mundo todo

Mas reina sozinho no peito

Meio sem jeito

Para todos os efeitos

Ele é apenas um bobo da corte


Meu coração é assim

Caçador nas savanas de emoções

Cavaleiro errante em meio a moinhos de ilusões

Saltimbanco itinerante

Um dia aqui, outro acolá

Ao sabor dos ventos


Meu coração só vai

Aonde os sonhos

Conseguem chegar...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*



Sunday, June 21, 2009


VEREDAS DO SERTÃO DA ALMA


Sob a lua do sertão da alma

Acendo a fogueira-coração

Açude da sina

Flor do espinho do mandacaru


Veredas vão brotando

Da erosão da carne

Sulcos por onde a chama transpassa

Desvendando camadas

Sob o seco solo...


Oásis vermelhos

Onde a vida ainda jorra


Águas do inconsciente

Trazendo esperança

Ao espírito ressecado do homem

Retirante do deserto de si mesmo

Caatinga no espelho rachado

Como o chão do sertão...


(Gustavo Adonias & Raiblue)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Wednesday, May 27, 2009

O INCENDIÁRIO


No quarto noturno

Esquecido do mundo

Idéias incendiárias

Começaram a brotar

De uma pequena brasa

No fundo da mente

Acendeu-se o pavio

Logo tudo iria pelos ares

Aquela vida sem sentido

Nula de emoções

Seria consumida

Pelas lânguidas labaredas

Loucas para se deliciar

De repente

O quarto ficara pequeno

Minúsculo cubículo

De uma casa também minúscula

De pessoas não menos minúsculas

Tudo ínfimo, enfim

Desceu as escadas como um dardo

Um cão de fogo alado

Prestes a tudo incendiar

Com uma fúria

A tanto tempo contida

Uma vida inibida

Uma estranha letargia

Que o prendia

E o fazia extremamente infeliz

Agora liberto

O incendiário

Ganhava as ruas

As praças

Os prédios

A cidade inteira

Para queimar

Tudo parecia tão pequeno

Aquele mundinho cotidiano

Aquela falsa aparência de bem-estar

Tudo estava com os dias contados

Arderia em chamas

Viraria ruínas

Cobertas de fuligem

E junto a tudo

As memórias

Seriam apagadas

Pela fúria do fogo

Tudo sumiria

Até mesmo o incendiário

Consumido pelo incontrolável

Desejo ardente de tudo queimar

E renascer das próprias cinzas

Como a ave fênix

Pronta para arder novamente

Eternamente...
(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Thursday, May 07, 2009



INCERTA VIA


Toda via

Leva à uma vida

Todavia

Vazia de certezas

Dia após dia

Viagem

Sem margem

Ao cais

Onde o dia cai

Veleiro que vem e vai

Pelo Tejo

Da água da alma

Que ia

No sem fim de mim

Rio do talvez

Assimétrico Nilo

Da mente

Todavia

Toda via

É uma estrada

Cheia de incertezas...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Sunday, April 12, 2009



ALÉM DO HORIZONTE LUNAR


Habita-me um universo em expansão

Big bang no peito

Galáxias na mente

Cometas traçando desenhos no corpo

Minha órbita é poética

Atraída pela densa gravidade das palavras

Louca nave

Gerando estrelas e letras

Flores no cosmo

Aquecendo a alma

Do frio do espaço

Sonhando com um planeta distante

De quimeras brilhantes

E desejo incessante

De zarpar e sumir

Pelo mar da tranquilidade

Além do horizonte lunar...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Wednesday, March 25, 2009


ÚLTIMA NOITE (antes do fim do mundo...)


A chuva lava a cidade

Arrasta os restos de sonhos

Desmancha as ilusões

Estou no alto da torre

Próximo dos raios e trovões

A rua lá embaixo inunda-se

Cá dentro do meu porão

Inunda-me a solidão

Sou só eu e os poetas de outrora

Sentinelas da cidade que dorme

Insones do coração

Um vinho me faz companhia

Na madrugada liquefeita

Ópio cor de sangue

Derramando-se na taça

Encharcando-me a mente

Sou só eu e os poetas

A brindarmos no escuro

Da última noite

Antes do fim do mundo...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Friday, March 06, 2009



VOO DIÁRIO


Falo com o silêncio

Calo com as palavras

Percorro inúmeras vias

Todas vazias

Minhas máscaras me revelam

Sou mais o que me falta

Desejos esquecidos

Numa velha gaveta

Observo pela janela

A viagem se revela

O que eu sinto vai sumindo

Como um vagão

Entrando num túnel

Beco sem saída

Só vou onde chegam minhas palavras

Procuro trilhas no abismo

Meu voo diário...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Wednesday, February 18, 2009


SAGA DA PALAVRA


Letras minguadas

Aguadas sílabas

Vão escorrendo

Pela fria vidraça

Formando palavras-casulos

Nascedouros de palavras-borboletas

Ninhos de palavras-passarinho

Toda uma fauna e flora de palavras

Desabrocham de mansinho

Assim que a fina pena toca

O relevo alvo do papel

Poéticas pálpebras se entreabrem

E a molhada lágrima-palavra

Leva e lava a estrada

Rumo à palavra-enseada

Velas-palavras abertas da alma

A derramarem-se no oceano da poesia

E sumirem tão calmas

Como surgiram...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Wednesday, February 04, 2009


AMORES URBANOS (no caos cotidiano...)


Grandes cidades

Amores urbanos

No caos cotidiano

O concreto fere

E forja as relações

Companheiros de individualismo

Vizinhos de solidão

Estamos perdidos

Sonhando com alguém

No meio da multidão

Que complete

Nossos divididos corações

Estilhaços de sonhos

Olhares sem tempo

Tudo é muito rápido

Nesta lenta agonia

Já não olhamos para o lado

Já não damos mais bom dia

Vivemos da aritmética fria

De multiplicar e não dividir

Não damos chance

Para que os outros alcancem

Nossas mentes e corações

No peito vazio

Sentimos frio

Nos aquecemos com ilusões

Cotidianamente...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Sunday, January 25, 2009



TUA BOCA, MINHA ESTRADA (para a perdição...)


Sigo os teus passos

Até perder-me em teus laços

Lasso em teus abraços

Doce letargia em meu coração

Rubro labirinto

Mudo de emoção

À cada minuto

Curto-circuito

Caminho mais rápido

Em tua direção

Tua boca marca o cálice com batom

Já não digo mais nada

Calar-te em um boca à boca

É a minha salvação

Já não me responsabilizo

Apelos e avisos já não tem mais sentido

Nem as curvas da estrada

Nem o meu peito na contra-mão

Só me interessam outras curvas

Outras pistas molhadas

Que me levem para o céu ou para o inferno

(tudo é uma questão de referência ou preferência)

Só o que me importa agora é tua boca

A despistar a minha razão, burra e cega

Mais esperta é a emoção

Que desperta e fica louca

Para mergulhar em teu abismo

Para morrer e renascer

Sob as dobras do teu blusão...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Friday, January 16, 2009


ASSOMBRO

Brinquemos a girar

Em uma louca ciranda

De redemoinhos de vento

Em um jardim que já não há


Dancemos sem pares

E sem música

Emaranhados em um mudo novelo

Improvável canção a nos embalar


Assinemos um acordo

Acerto firmado

Em um barco

No lago seco do permanecer


Façamos um brinde

Em taças de vento

Com o álcool do firmamento

Azul-cinzento

A nos entorpecer


Sonhemos acordados

Na última hora

Com a vida lá fora

Já que aqui dentro

Esquecemos de viver


Deitemos na colcha

De retalhos do tempo

Trapos de antanho

Em uma cama de cacos

Como fáquir sem esperança


Sigamos pela estrada

Em meio à cerrada neblina

Na contra-mão da retina

Para que em nossa sina

Ninguém possa nos ver


Deixemos a cidade às pressas

Em um trem ultra-veloz

Para que as lembranças

Não nos assombrem mais...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*