Friday, September 29, 2006


RATOEIRAS

"Navalha na carne
Gosto estranho na boca
Verdade vendida na rua
Made in China

Imenso castelo de areia
Desejo de viver a vida alheia
Reality shows (circo de horrores)
Realidade efêmera

Quinze minutos de vida
O resto da existância a agonizar
Gozar com a desgraça alheia
Rir do que não tem mais graça
"Qual é a graça desgraça que há no riso do banguela?"

Horário reservado aos ratos
Imundos roedores da dignidade humana (em Brasília, 19 horas)
Só mesmo ratoeiras gigantes
Pra acabar com toda essa baboseira."

(participação especial de Zeca Baleiro, "Banguela")

(Gustavo Adonias)

Wednesday, September 27, 2006

MAIS UM DIA COMUM

"A noite rima com açoite
No tênue limite
De mais um dia em vão

Ouvindo uma longínqua canção
Blues eterno de uma vida sem emoção
Desperto sem alma, em uma ilha só minha

Costurando as ilusões de uma vida perfeita
Castelo de areia desfeito
Por uma enchente instantânea

Nestas horas o céu arde em chamas
Os anjos derretem
Em uma lenta explosão

O vento passa feito navalha
A cama arde
Em mais um século de solidão

A chuva do leste
Traz aves de rapina
O medo rasteja pelo chão

Em poucas horas tudo isso passará
A cidade acordará pronta
Para mais um dia comum."

(Gustavo Adonias)

Saturday, September 23, 2006

SENTIDO

" Nada existe tanto
Quanto aquilo que não pode ser tocado

O que não pode ser medido, contado
Em verdade é o que existe

Tudo que foge deste mundo ilusório em que vivemos
É essência
O resto é mero engano

Emoção, tudo que arde e rasga
É o que de fato faz sentido."

(Gustavo Adonias)

Thursday, September 21, 2006

RESTOS MORTAIS

" Sobre a cidade, a noite cai
E uma sombra se espalha
Uma multidão de mortais
Cheia de dor,se esvai

Pessoas circulam pelas avenidas
Com suas máscaras iguais
Sem rostos, vão se reproduzindo
Máquinas mortíferas, pós-modernismo

Voltam para casa
Sem desejos, sem nada
A fome já não incomoda
Sem sonhos, dormem e acordam

Rostos, restos, reflexos
Prosseguem imersos
No caos cósmico moderno
Deserto humano de concreto

Não se reconhecem
Nem se estranham
Apenas passam

Como poeira
Num tempo despedaçado
Sem futuro, nem passado...

E do antropofágico homem moderno
Apenas vestígios, restos..."

(Raiblue)

Wednesday, September 20, 2006


ANTROPOFAGIA

Fome sem nome
Desejo de carne, de alma
Devorar ferozmente
Pedaços iguais, diferentes
Produzir saliva
Digerir idéias
Com molho agridoce
Soluçar palavras
Satisfazer apetites
Temperar
Outras raízes
Várias matizes
Prato pronto, nova fome
Antropofagia
Tudo se come.

(Gustavo Adonias)

Sunday, September 17, 2006


ESTRANHAMENTO EM 2046

" Futuro próximo, talvez 2046
A cidade com sua etnologia da solidão nos olha
Os homens são sombras e passam desfocados
Tudo é ex-estranho
Estranhamento sem tamanho
O desejo desespero de voltar no tempo
O profeta revolucionário
Antevia com toda a paciência
Com seus olhos de raio x
O último por do sol
Ao longe músicas antigas
De um tempo já sem volta
Talvez Perfídia, Siboney
Já nem sei
Só tenho uma certeza (tinha até 1 segundo atrás)
Esse mundo de agora é hoje
Amanhã já se foi...."
(participação especial: Paulo Leminski, Lenine, Marcelo Reis, em 2046)

(Gustavo Adonias)

Thursday, September 14, 2006


QUEBRAR O TEMPO

" Quebrar o tempo
Dele retirar cada segundo enferrujado
Punhal-ponteiro
Fere sem volta
Sem fim todo dia
Zero hora se transforma
Em mais um dia
Que se perde
Ontem eu achava que meu hoje seria amanhã
Hoje nem sei que dia foi ontem
Amanhã saberei que nunca passei
De um traço de hoje
Que nunca se foi."

(Gustavo Adonias)

Saturday, September 09, 2006

MUNDO VÃO

" Mundo vasto, mundo vão
De quimeras, solidão
Outros mundos?
Utopias infundadas
Aprofundadas contradições
Mundo louco
Microcosmo, macro caos
As ruínas antenadas
Desdentada população
Esperando pelo futuro
Sonhando com o milagre da divisão."

(Gustavo Adonias)

Wednesday, September 06, 2006


ÚLTIMA LEMBRANÇA

No último cais da última cidade
Fico a mirar o noturno mar
Vejo as tristes pequenas lanternas dos últimos faróis
Ouço a nave do último silêncio que há
Solidão....
A solidão derrama-se sobre a última praia
Essa é a minha última lembrança...

(Gustavo Adonias)