Friday, February 26, 2010



VINHO DOS SENTIDOS


A canção ecoava

Em um canto da mente

No limite entre a dor e a paixão

Nostalgia cortante

Sentimento ardente

Um cheiro

Um gosto

Dois corpos

A mistura das salivas

Em um mesmo copo

Vinho dos sentidos

Derramado numa viela escura

Esquecida da cidade

Lua à luz de velas

Barco à vela

No lume da noite

Sangue rubro

Erógeno perfume

Redescoberto pela mente

Inebriante reencontro

Despertado pela lembrança

Dos teus olhos perdidos

Numa noite quente...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Friday, February 12, 2010


"A verdadeira viagem é aquela que não se faz, já está em nós..."

(Gustavo Adonias)




ETÉREAS VIAGENS


Com um velho gosto de sangue na boca

E o corpo calejado

Viajei tantas milhas

Por ilhas perdidas no arrebol


Estive nos quatro cantos

Deste mundo nauseabundo

Como em uma nau minúscula

Jogada em uma tempestade


Vi mil povos, de mil e um países

Todos com suas angústias específicas e universais

Com suas ruínas obscuras

Que preferem esquecer


Estive em florestas tão densas

Que pareciam me sufocar

Molhadas por uma água eterna

E um calor inclemente


Visitei desertos tão secos

Asfixiando o desejo de sobreviver

Sobrevoei cidades de pedra

E outras modernas

Onde o vazio é o mesmo


Conheci tantas línguas

Todas elas mudas

Na linguagem do coração


Vaguei por toda a Terra

E o cosmo insondável


Vivi tudo isso

Com as asas da alma

Sem sair do lugar...



(Gustavo Adonias)




*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*

Monday, February 01, 2010

Obra do artista plástico Ed. Bernardo.


"Era brabo, Virgulino Lampião, mas era, pra que negar, das fibras do coração, o mais perfeito retrato, das caatingas do sertão."

(Literatura de cordel)



BRASA NO SERTÃO


O cão de fogo

Fez a faísca

Acendeu o pavio

Alumiou o Lampião

Virgulino tocou brasa no sertão

O grande dragão alevantou-se

Sob o inclemente sol da caatinga

Espinho do mandacaru

Mandioca brava

Cabra da peste

Espingarda, sua espada

Gibão de couro, armadura

No chapéu a estrela da justiça sem lei

Samurai do Nordeste

Facínora sanguinário ?

Herói dos desvalidos ?

Robin Hood dos fracos e oprimidos ?

Lampião tocou brasa no sertão

Fez brotar o medo e a admiração

Até que cercado pelos macacos da volante

Caiu sem vida ao chão

Deixou de ser Virgulino

Virou lenda, assombração...


(Gustavo Adonias)


*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*