Sunday, August 27, 2006


PESO

"De dentro da parede cavernosa do meu peito
Das catacumbas escuras do meu corpo
Ecoa lamento percussivo
Som rastejante, trovão na clareira
Chumbo grosso
Sino de pedra, rochedo vibrante
Serpente de olhos vermelhos
Que devora meus segredos
Conhece minhas entranhas
Entoa um canto pesado
Como o último canto jamais entoado
Traz a noite mais densa que jamais houve
Seca o último rio existente
E recomeça tudo de repente."

(Gustavo Adonias)

Friday, August 25, 2006


A ÚLTIMA NOITE

"Foi a última noite que nos vimos
Bebíamos como se o mundo fosse acabar
Como se quiséssemos afogar tudo o que nos fazia mal
Limpar tudo que nos causava aquela ânsia caústica

Nos beijávamos ansiosamente
Lábios e línguas quentes que anunciavam novamente solidão
Abraços fortes, prenúncios de novos espaços vãos
Carinhos sem futuro, desejos sem amanhã

E assim vimos o dia clarear
E cada um tomou seu caminho
Sem novos telefonemas
Sem flores ou cartão."

(Gustavo Adonias)

Tuesday, August 15, 2006


HOJE

" É hoje
Nada mais me interessa
Nem a guerra, nem a corja na TV

Hoje meu tempo vale ouro
Não posso jogá-lo fora
Quero sair, fugir

Voar, ver a triste cidade de cima
Ser um anônimo pássaro
E ser um pouco divindade

Hoje
Quero beber da sua fonte
Possuí-la e sumir pela janela

Quero ser lembrado
Mesmo que como sombra
Navegante de outras alturas

Quero fazer parte do inconsciente coletivo
Romper com a lógica
Não pertencer a esse mundo

Hoje serei tudo o que quiser
Só hoje
Amanhã é outro dia."

(Gustavo Adonias)