Wednesday, September 20, 2006


ANTROPOFAGIA

Fome sem nome
Desejo de carne, de alma
Devorar ferozmente
Pedaços iguais, diferentes
Produzir saliva
Digerir idéias
Com molho agridoce
Soluçar palavras
Satisfazer apetites
Temperar
Outras raízes
Várias matizes
Prato pronto, nova fome
Antropofagia
Tudo se come.

(Gustavo Adonias)

1 comment:

Raiblue said...

Belo poema,Gu,já contendo na própria estrutura a idéia de antropofagia,fome de tudo,inclusive de coisas opostas,sabores diversos que produzem um tempero único,singular,uma pluralidade que gera uma identidade forte,colorida, que faz dos versos antropofágicos um prato bastante apetitoso , rico em suas raízes e irreverência.
A sequência construída pelo poeta foi perfeita:desejar,digerir,soluçar palavras,num eterno movimento cíclico...,pena que muitas pessoas não têm uma possibilidade de experimentar novas comidas,ficam no eterno feijão com arroz,e muitas nem sequer a isto têm acesso...são apenas mais uma sombra na multidão...
O homem é o reflexo do que come,e quanto menos preconceitos tiver,mais alimentado estará de idéias e desejos,pronto para esse combate voraz que é viver!

Parabéns, Gu !Primoroso seu poema!
Beijinhos