ASSOMBRO
Brinquemos a girar
Em uma louca ciranda
De redemoinhos de vento
Em um jardim que já não há
Dancemos sem pares
E sem música
Emaranhados em um mudo novelo
Improvável canção a nos embalar
Assinemos um acordo
Acerto firmado
Em um barco
No lago seco do permanecer
Façamos um brinde
Em taças de vento
Com o álcool do firmamento
Azul-cinzento
A nos entorpecer
Sonhemos acordados
Na última hora
Com a vida lá fora
Já que aqui dentro
Esquecemos de viver
Deitemos na colcha
De retalhos do tempo
Trapos de antanho
Em uma cama de cacos
Como fáquir sem esperança
Sigamos pela estrada
Em meio à cerrada neblina
Na contra-mão da retina
Para que em nossa sina
Ninguém possa nos ver
Deixemos a cidade às pressas
Em um trem ultra-veloz
Para que as lembranças
Não nos assombrem mais...
(Gustavo Adonias)
*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*
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