Monday, September 01, 2008

DESCALÇO SOBRE OS DESTROÇOS


Descalço sobre os destroços

Vago com o silêncio entre os dentes

Rangendo pungente

Entoando a voz dos que calam

Dos que nunca clamaram

Mudos de esperança ou de nascença

Percorro a noite

Entre a cruz e a espada

Coroa de espinhos afiada da madrugada

Ando na rua que havia

Antes da bomba fria

Destroçar as flores de sépia

Caminho em um trilho vazio

Obscuro fosso de um tempo interrompido

De um relógio parado

Volto da vida mais cedo

Como de um banquete estranho e amargo

Bebo do vinho das entranhas ardentes da alma

Ácido entorpecente que jorra

Inunda e afunda

A terra que resta

Única ilha ainda não submersa

Rubra pétala do último amor...


(Gustavo Adonias)

*Poesia registrada na Biblioteca Nacional*